sábado, 19 de maio de 2012

Galo: uma vida de paixão


Quando nasci, não tinha noção do amor e do carinho que teria por um clube. Na verdade, até os sete anos de idade não sabia o que era futebol, pois nunca tinha visto. Minha mãe saía para trabalhar e deixava eu e minha irmã presos em casa e voltava tarde da noite. Eu somente ouvia falar de futebol pelas notícias de rádio. Os meus tios se diziam cruzeirenses, mas não via nos seus sembrantes qualquer emoção quando falavam do cruzeiro. Mas somente de ouvir falar do Galo, pelo rádio, pois não tinha televisão em casa, sabia que ali, naquelas palavras de emoção dos locutores, estavam o sentido da vida. Assim, pode resumir que a minha vida tem um divisor de águas, ou seja, antes e depois do Galo e tudo começa assim:

Fui abandonado pela minha mãe exatamente no ano de 1971, o ano do Galo. Ano do primeiro campeonato brasileiro nos moldes disputados até hoje. Minha mãe nos deixou: eu e minha irmã, para passar as férias na casa de nossa avó paterna e nunca mais nos buscou. Acho que essas férias está durando até hoje, pois ela já faleceu e, agora, certamente não quero que ela venha me buscar.

Todavia, no ano de 1971, pude assistir pela primeira vez um jogo do Galo e pude vê nas ruas o que era a alegria de ser Atleticano. A maioria das pessoas que moravam na casa a minha avó paterna era composta de Atleticanos. E veja que eu nem sabia o que era o futubel, ou seja, o meu amor pelo Galo veio antes do amor pelo esporte: o futebol.
Depois, aprendi com a molecada da rua a jogar futebol. Passei a ir aos estádios para assistir, não o futebol, mas ao Galo. Esse foi o meu primeiro vício: o Galo. Me apaixonei com o grito da "massa"; pelo incentivo nos momentos difíceis; pela explosão de alegria quando balançávamos as redes adversárias. Mas lembrem-se que não me tornei atleticano pelo modismo da época devido ao excelente time que foi campeão nacional. Vi o Galo e amei o Clube Atlético Mineiro antes do primeiro triunfo nacional. Torçi como nunca pelo Galo. Parecia que o Galo resolveu jogar bola bem depois que eu passei a torcer. Sim, me considero pé-quente, pois somente após eu ser apresentado ao Galo que ele ganhou um título em nível nacional. Aliás, era o primeiro campeonato nacional. Então, para mim, o Galo é o primeiro e único campeão. Não sabia o que era perder, pois no hino dizia:" vencer, vencer, vencer, esse é o nosso ideal. O ideal do Atleticano é a vitória, pois vibramos com alegria das vitórias. Vi grandes nomes surgirem no Galo e  ganharem o mundo. Vi Reinaldo, Cerejo, Marcelo, Paulo Izidoro, Éder, Ortiz, dentre outros que brilharam com o Galo e com a camisa amarelinha.

Mas nem só de alegrias vi o torcedor Atleticano. Vi Galo deixar escapar um título no Mineirão mesmo tendo terminado o campeonato de 1977 invicto. Vi o Galo disputar pau a pau com o Flamengo, mas não conseguir levar o título. Vi o Galo figurar no topo do ranking nacional durante décadas e não conquista mais nenhum campeonato. Mas vencer, vencer, vencer, este é o nosso ideal. Honramos o nome de Minas e não importam os canecos perdidos; o suor espelido; o sangue demado; ou as malas pretas esvaziadas. Sou Galo até a morte. Ou melhor, sou até após morte, pois quero ser enterrado com o manto sagrado cobrindo o meu esquelético corpo sofrido por ter tido tanto amor ao Galo. Talvez, nesse dia o Galo seja campeão e eu nem veja. Mas uma coisa eu saberei que pelo Galo, eu vivi uma vida de paixão e pelo Galo renascerei em espírito para acompanhar o time e a massa onde quer que um Galo cante. Vim , vi e venci, pois vencer é o ideal do Atleticano.